Humanismo e Renascimento
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Humanismo e Renascimento
“O
homem é a medida de todas as coisas” Protágoras
(texto apresentado no contexto do curso Filosofia e Maçonaria)
Introdução
O presente texto pretende abordar um momento específico
da longa história da Filosofia. Trata-se de um período de transição da Idade
Média para a Modernidade. Como quase tudo em filosofia é suscetível de
discussão, o início da Modernidade não ficaria de fora. Para efeitos de dar
ordem ao início da conversa tomo o ano de 1500 como início da Modernidade.
Associo também a figura do pensador René Descartes (1596 – 1650) a essa época.
Porém, esse período pode ser visto mais de perto, o que
irá nos revelar outros pensadores e pensamentos. Como Pico dela Mirandola,
Marsílio Ficino, Pleton, Agripa, Bruno e vários outros que cobrem um período
histórico que vai de Cola de Rienzo(1304-1374) até um Kepler (1571-1630).
Ainda a título de introdução, vale ressaltar que as
mudanças de épocas não se dão em apenas um âmbito. Nesse sentido pode-se dizer
de modernidade nas artes, modernidade na filosofia, modernidade na política.
Para alguns a modernidade na filosofia estaria ligada a René Descartes (1596 –
1650). Já no âmbito do Poder ou da política essa modernidade só estaria na
Revolução Francesa em 1892. Porém, essas mudanças só foram possíveis ou
ganharam forças substanciais com as navegações e, especialmente, a descoberta
do Novo Mundo (1492). Por fim, associa-se ao humanismo o renascimento e são
dois temas muito debatidos entre historiadores da filosofia, pois para alguns
esses dois momentos são apenas um; outros ainda não consideram que sob esses
nomes possa conceber alguma contribuição filosófica.
1. Humanismo
Em geral os termos que designam uma época surgem depois
dela. No caso do humanismo, o conceito propriamente dito parece ter surgido em
1800, especificamente pelo filósofo e teólogo alemão F.I. Niethammer
(1766-1848).
Outra forma de abordagem é verificar como os próprios
‘humanistas’ se viam ou se comportavam.
Nesse sentido, pode-se dizer que eles se dedicavam ao homem como centro das
coisas, daí humanismo. Longe de ser um hedonismo, a preocupação desses
pensadores era um tipo de saber que falasse do próprio homem, em detrimento, na
época muito em voga, do pensamento abstrato e metafísico apregoado pelo
aristotelismo.
Outra marca desses humanistas foi a idéia de estudar a litterae humanae, isto é, as literatura
humanas produzidas pelos pensadores da Grécia Clássica e Latina para opor ao
pensamento cristão medieval ou mesmo árabe da península Ibérica.(lembrando que
entre os árabes, apensar de haver a divulgação do aristotelismo, havia
pensadores que discordava dessa influência, entre eles podemos citar Al-Ghazali,(1058
— 1111)
A idéia, portanto, era fazer com que o estudo das
chamadas “artes liberais” promovesse o espírito humano. A formação do espírito
humano era o propósito de se lançar no estudo da retórica, da lógica, poesia e
filosofia. Para os dias de hoje, ainda que estejamos sendo suplantado pela
tecnologia, esse detalhe passa ao largo. Contudo, o contexto medieval esse
movimento retomou a idéia grega de Paidéia, isto é, formação do espírito
humano. De certo modo tal posicionamento consiste em romper com a Igreja que
apregoava certo desprezo pela vida terrena, grosso modo, o imp0rtante era se
preparar para o céu e deixar a vida de lado.
3. Contexto do Humanismo
Em 1453 ocorre a queda de Constantinopla, capturada pelo
Sultão Otomano Maomé II. Um pouco antes, O Imperador bizantino, na tentativa de
salvar o que restava do antigo Império Romano, procura participar do Concílio
Ecumênico em Florença[1]
para angariar aliados.
Com a ocupação de Constantinopla acontece a mesma
diáspora de intelectuais que assistimos em outros momentos e lugares da
história. Nesse caso, um pouco antes da queda e por ocasião do Grande Concílio,
uma figura em especial deve ser destacada. Trata-se de Jorge Gemistos Pléton.
Para alguns historiadores da Filosofia, o Pléton
seria uma posse indevida, pois com isso esse pensador bizantino se dizia a
própria encarnação de Platão.
O fato é que houve nesse período uma grande migração de
conhecimento oriental para a Itália, especialmente para Florença, uma das
cidades mais ricas da época. Nessa cidade havia, também, outras diferenças além
da riqueza. O dístico fundamental estava na forma como era produzida essa
riqueza e seus donos, entre eles, os famosos Médicis.
Ao contrário do restante da Europa feudal, a Itália teve
nos seus portos contato comercial privilegiado com o mediterrâneo e a riqueza
produzida em Florença, que certamente tinha no porto da cidade de Livorno sua
porta para o mar, era oriunda do comércio.
Por isso que Florença (Firenzi) é considerada o berço do
Humanismo Renascentista. Sob a tutela de
uma elite comercial é que é a idéia de retomada do valor do homem irá se
construir.
Nessa cidade, sob o patrocínio de um dos Medicis, Cosme –
o Velho, é que surge a Academia Platônica, posteriormente denominada Academia
Platônica de Florença. Nesse contexto deu-se uma intensa busca pela cultura
grega e oriental. Certamente como forma das novas elites se afirmarem frente a
cultura clerical e feudal.
4. A Academia Platônica de Florença
Sob a direção de Marsílio Ficino a Academia Platônica
constitui-se em um novo espaço de cultivo do saber. Um lugar fora dos velhos
espaços da Igreja, acostumada ao aristotelismo que muito bem servia aos
interesses de imposição dogmática.
As atividades de tradução resultaram no aparecimento dos
mais variados conhecimentos. Hermes, Zoroastro, Orfeu, Qabalah, entre vários
outros passaram a impressionar ‘pensadores’ como Ficino e Pico dela Mirandola.
O empenho de Ficino resultou na tradução do Corpus Hermeticu, Comentaria in Zoroastrem, Enéadas
de Plotino e Dionísio Areopagita.
Produção teórica que nos dias de hoje são consideradas falsas, isto é, os seus
autores no olhar da filologia moderna não existiram e os conhecimentos aí
presentes não são de contextos egípcios ou persas. Provavelmente foi apenas uma
produção do próprio medievo oriundo do Império Bizantino.
Independente dos autores serem verdadeiros ou não, o fato
é que esse novo tipo de conhecimento introduz tentativas de saberes que
tomassem o homem não como fruto do “pecado original”, a queda de Adão. Passaram
a considerar o homem como sendo uma criatura maravilhosa, até mesmo sendo um
tipo de Deus, enquanto criado por Deus.
Posto o homem no centro, os conhecimentos procuraram
interferir na natureza. Não apenas descrevê-la, como fazia os naturalistas
árabes. Inicialmente os métodos variavam, mas podemos afirmar que sob o nome de
‘magia’ e suas definições temos as primeiras tentativas de lidar com a natureza
de modo “científico”.
5. As Academias no Período da Renascença
Outro modelo de Academia foram
as de Ciências. A Real Academia de Ciência de Londres (Royal Society ou The
Royal Society of London for the Improvement of Natural Knowledge) é a mais
famosa e a que perdura ainda nos dias de hoje. Da mesma época é a Académie des Sciences,
situada em Paris.
A característica dessas academias de Ciência, o que as
difere fundamentalmente das demais, é a idéia de publicidade dos conhecimentos.
No contexto do Renascimento havia certa presença aristocrática entre os que se
dedicavam as ‘letras’. Nesse sentido, mesmo registrando os avanços dos
humanistas em vários âmbitos do saber, permanecia um status para os ‘mestres’ e
‘doutores’ que em muito se aproximava daqueles praticados no medievo.
Nesse contexto colocar em cheque uma teoria era criar
problemas sérios. Pois estava em jogo o próprio status da pessoa que a propôs.
Essa idéia de discutir as idéias e não as pessoas, fundamental para o progresso
do saber, não era comum. Até nos nossos dias, na cultura das massas, poderemos
verificar que as pessoas não ‘aceitam’ críticas por considerar que a questão em
jogo é a sua própria dignidade. Dificilmente alguém que não seja das ciências
ou filosofia nos dias de hoje consegue superar e estar preparada para receber
críticas pelas opiniões dadas.
No Renascimento essa posição ainda era corrente. Por isso
a idéia de colocar um “invento” a público para se testado e verificado segundo
as prescrições do inventor constituía em algo raro.
Além dessa posição p0litica revolucionária, as Academia
de Ciências também propiciava abertura para os testes práticos das idéias
concebidas no âmbito matemático.
A verificação de uma teoria acerca de um fenômeno, não
tinha logo no início do Renascimento condições de ser verificada na prática. Algumas teorias só foram testadas muito
recentes, pois, ainda no calor do Renascimento, havia certo desdém pelo
prático. Os ‘doutores’ por desprezarem os serviços manuais, acabam por se
portarem como seres puros.
No âmbito das Academias de Ciências assiste-se a entrada
vagarosa de instrumentos de aferimento das teorias matemáticas. O que as coloca
como precursoras da revolução Industrial, uma vez que no seu interior houve o
casamento entre o fazer técnico ou de instrumentos e o fazer intelectual ou
teórico.
6. A maçonaria e suas congêneres.
A Maçonaria parece ter procurado casar as duas
tendências. Ao fazer uso das metáforas ligadas às construções e adicionar
conteúdos de Filosofia e suas implicações com tradições orientalistas, esse
tipo de associação procurou conter em si os elementos necessários para promover
o saber da época e operou uma síntese entre as Escolas do Renascimento e as
Academias de Ciências.
Porém, diferente da história das Academias de Ciência, a
Maçonaria parece ter encontrado lastro nas discussões políticas. Sua
contribuição ao longo de sua história mais produtiva, isto é, nos anos antes de
1700 até o 1900, parece ter sido a de permitir um tipo de reunião ou
sociabilidade que promoveu em muito as idéias políticas do liberalismo como
modelo de Estado.
Como qualquer outra instituição, a maçonaria não era uma
‘obediência’ por toda Europa.
Contradições e posicionamentos políticos foram os mais diversos. Um exemplo é o
contexto da Revolução Francesa. A maçonaria não era unanimemente partidária,
muito menos os Ideiais de Liberdade, Fraternidade e Igualdade eram seus.
De qualquer modo, a maçonaria nesse contexto de
Renascimento até o ‘800 tem o mérito de ter conseguido se estabelecer e não se
perder. A várias sociedades que surgiram e desapareceram são incontáveis. A
cada novo guru uma nova fórmula mágica e milagrosa surgia junto. Alguns
constituíam apenas alguns membros, mas se posicionavam como sendo o centro do
universo.
Enfim, apesar das modas orientalistas sempre ter
fascinados os europeus, a Maçonaria conseguiu emergir dessa miríade de
associações fantásticas e mesmo tendo várias dissidências, consegue se fixar
como Instituição e até mesmo construir uma história documentada a partir da
fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra.
A Maçonaria conseguiu resistir a fragmentação até chegar
a dissolução. Parte desse feito pode ser tributada no modo que o Poder é
distribuído no seu interior. Apesar dos nomes pomposos como Grão-Mestrado(mesmo
que um ‘Potencia’ tenha apenas 90menbros), Grande Comendador, Real Arco,
Soberano-Comendador, o exercício do Poder é feito na base da rotatividade.
Talvez fruto do próprio rumo político que a Maçonaria tomou.
A Maçonaria conseguiu manter-se como Instituição ao
estabelecer a idéia de um ponto fixo (LandMark) como elemento indenitário e, ao
mesmo tempo, permitiu a inovação. Esses dois elementos antitéticos foi
acomodado no seio da Maçonaria e deve ser mais bem estudado, pois é fundamental
quando se compara com os milhares de outros Institutos que nasceram aos montes,
mas que acabavam na mesma velocidade.
Conclusão.
A Maçonaria consegue em partes fazer uma transição
histórica do Renascimento para os nossos dias. Seu modelo de organização, por
mais que seja suscetível de críticas, conseguiu manter-se coeso e ainda obteve
expansão não só na Europa, mas no Novo Mundo.
Outra marca desse modelo de associação é a forma de
vínculo entre os membros. Misturando elementos de sacralização e filosofias
laicas, a idéia de irmandade, a forma de governo das Lojas, que sempre permite
que cada pessoa seja sujeita do processo local dos trabalhos, propiciou um
modelo de Educação que descentraliza o governo do quê estudar. Cada
participante, no auge criativo dessa associação, podia investigar os mais
variados temas, sem um currículo advindo de um governo central. Mesmo que os
manuais determinem alguns conteúdos, de formação humana propedêutica, há
liberdade e incentivo para a busca do saber.
Mas tudo isso em algum lugar do passado, especialmente o
‘800. Nos dias de hoje a Maçonaria passa por algumas crises. Entre elas a de
utilidade. A sociabilidade nos dias de hoje é feita por outros meios. Outro
ponto é o objeto da Maçonaria saiu de moda, isto é, no seu ponto mais ativo
foram as questões políticas que fizeram dela um lugar privilegiado. Após a
consolidação dos Estados Liberais, a discussão que tomou centro foi à economia,
um tipo de saber que é essencialmente ‘particular’. O discurso econômico como
centro da ‘p0litica’ atual afastou as condições contextuais que gerou a
Maçonaria.
No embate político do antes e pós-revolução francesa ainda
prevalecia certa convivência. A política é exatamente o encontro com o outro.
Já a economia assenta-se na base da disputa com o outro. Uma vez estabelecida
as regras do jogo, isto é, o modelo de Estado Liberal com todo o seu aparato
jurídico, agora é a vez de jogar e a sociabilidade não tem lugar nesse jogo.
Com isso a maçonaria assiste sua decadência. Mesmo com
alguns movimentos positivos nos Estados Unidos, não se verifica mais o
desenvolvimento de papel principal. A partir de então, é comum, ao contrário, a
Maçonaria pegar carona nos acontecimentos sociais. Nessa nova fase é melhor
encaminharmos para a psicologia, pois com esse instrumento iremos compreender
melhor como ainda hoje existe a Maçonaria. Sua existência nos dias hoje está
mais a cargo de desenvolver funções psíquicas junto a indivíduos específicos.
[1] Esse concílio começou
em Basiléia, hoje Suíça. (Para evitar interferência de Reis e Papas romanos;
Contudo foi transferido para a cidade de Ferra e depois para Firenzi –
Florença)
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